A carta que nunca escreverei

Cara amiga:

Estranha a forma como tudo terminou, não achas? Na verdade tanta coisa se disse e se debateu nos tempos áureos da nossa “amizade”, que talvez quando chegou o momento de me virares costas um simples adeus não te tenha feito sentido.
Porém, tenho a dizer-te que faria todo sentido um porquê dessa decisão… Não é que sinta falta do teu companheirismo, pois nunca senti que tal houvesse da tua parte. No entanto, a meu ver, quem se intitula de “frontal” não toma uma atitude tão covarde.
Amiga, não penses que esta carta se trata de algum tipo de afronta pessoal, é apenas a minha opinião que te quero demonstrar. Talvez seja mais uma que irás contrariar ou maldizer, como sempre fizeste questão de evidenciar… Só assim consegues exercer a tua superioridade, não é verdade?
Não entendo porque te tornaste nesse ser um tanto ao quanto desprezível e mal-amado. Sentires-te feliz à custa da infelicidade dos outros é um pouco doentio, não concordas? Oh, claro que não! Nunca concordarias com algo que eu dissesse ou fizesse. Apoiares-me foi sempre algo que nunca te permitiste fazer… Sempre foi mais fácil mentir, humilhar e desprezar toda a amizade que te prestei e que nunca retribuíste.
Não posso dizer que te odeie, talvez te despreze… Resumindo, o que sinto é pena! Tenho pena na pessoa que te tornaste: alguém que será sempre infeliz por não saber retribuir o amor que lhe dão e apenas querer o que não lhe pode ser dado.
Mas enfim… Foi contigo que cresci, que passei os anos mais marcantes da minha juventude e como tal, dificilmente te irei esquecer. Serás sempre a amiga que não desejo a ninguém, mas também aquela que com palavras amargas e por caminhos tortuosos fez com que eu deixasse a ingenuidade de parte. Era através dela que via o ser que nunca foste e que eu tanto desejei que te tornasses…
Não te quero mal, infelizmente o mundo está cheio de pessoas como tu com as quais terei de lidar. Sejamos razoáveis, não posso virar costas a este mundo que endoidece diariamente aos meus olhos. Na maior parte das vezes, reajo da mesma maneira que faço contigo, ignoro a sua existência!
Atenciosamente,
Aquela a que chamaste irmã

Baunilha&Chocolate

Sempre se questionou pelas coisas mais evidentes. A necessidade de entender tudo e todos deixava-a impaciente, sempre com o “porquê?” prestes a escapar-lhe da boca. Lembro-me perfeitamente de uma das suas dúvidas, aquelas que surgiam sempre antes de deitar, no momento da despedida. Ela tinha cerca de 4 anos, ia dar-lhe um beijo de boa noite quando ela me perguntou - “Ana, conheces o Miguel da minha turma?”
“Sim, não é o teu melhor amigo?”
Um pouco reticente, respondeu “Penso que sim!”
“Então Maria, não tens a certeza?”
“Tenho, mas os meus colegas não gostam muito. Sabes, o Miguel é muito moreno e os outros meninos por causa disso não brincam com ele. E eu nunca entendi porquê, ele é muito simpático comigo e sei que fica triste por mais ninguém brincar com ele.”
Senti-me tentada a dizer que era puro racismo que os pais e a sociedade incutem na mente destas crianças. Mas a Maria era muito ingénua para perceber o mal que existe lá fora. Naquela altura a sua mente era pura e cheia de amor para dar, só ela conseguia pintar um mundo cheio de cores, sem ligar aos contrastes da vida. Para ela o amigo Miguel, era como todos os outros. Apenas “moreno”, dizia ela…
“E achas que é por ele ser «moreno»?”
Por instantes ficou pensativa e disse:
“Não sei, mas o Miguel gosta de mim e eu sou branquinha. E eu gosto do Miguel assim!”
“Então a vossa amizade é especial?”
“Hum hum…” anuiu. “É doce, assim como um gelado de baunilha e chocolate!” disse, toda sorridente.
Na altura apenas me ri e me despedi dela. Hoje, penso no quanto aquelas palavras eram sensatas. A Maria tinha apenas 4 anos e de maneira simples conseguiu identificar a beleza que existe na raça humana, o facto de sermos todos diferentes não é motivo para ser discriminatório. Pelo contrário, é “doce como um gelado de baunilha e chocolate”.


Sofia Simões



Amizade ou algo mais?

Já passaram duas semanas e o Tiago continua sem dizer nada! Sinto-me perto do desespero…
Aguentei 3 dias sem dizer nada, não quis dar muita importância à situação. Achei que o melhor seria agir como se nada tivesse acontecido… Mas ele não deixa! Porque é que ele não diz nada? Porquê? Sei que é o meu melhor amigo, mas não consigo deixar de pensar como aquela noite foi óptima.
Entre uma papelada e outra vem-me à memória os seus beijos, no café ouço o seu riso algures, a caminho de casa fico suspensa com o seu cheiro… Sinto-o em todo o lado, a cada esquina que viro vejo a sua cara em rostos desconhecidos! Não entendo o motivo para tanta obsessão, conheço o Tiago há tantos anos e isto nunca me aconteceu.

Tenho o telemóvel a tocar algures cá em casa… É ele, de certeza!
- Estou?!
- Olá desaparecida! Que é feito de ti?
- Ah… Olá Luísa! Tudo bem? Tenho tido imenso trabalho estes dias, desculpa!
- Pois, mas isso não é desculpa para não sairmos hoje. A Joana faz anos e quer que a gente vá ter com ela ao “Tocas” para bebermos uns copos!
- Hmm… Não sei, Luísa! Não me apetece muito, ando cansada… Queria aproveitar para descansar!
- Desculpas, só desculpas! Pensas que eu não sei que andas assim toda cabisbaixa por causa do Tiago?
- AH?!
- Sim minha menina! O facto de ele não te ter dito nada depois daquela noite anda a dar-te a volta aos cornos!
- Não sejas parva! Só estou preocupada com ele, não é normal ele ficar tanto tempo sem dizer nada.
- Claro, também não é muito normal ires para a cama com o teu melhor amigo!
- …
- Ana, só te digo isto para teu bem! Fala com ele, explica-lhe o que se passou e esclarece o que sentes.
- Já tentei! Ele não atende os meus telefonemas, não respondeu às minhas mensagens. Não posso andar a implorar a atenção dele.
- Ele deve andar tão confuso, coitado! Eu sempre achei que ele tinha um fraco por ti, nunca te disse nada por que não ias acreditar e ias dizer que eram histórias minhas, bla, bla, bla…
- Ia mesmo, porque não passa disso mesmo! Histórias, tretas…Entendes?
- Convence-te disso! E já agora tenta também convencer-te que só gostas dele como amigo. É que pelo menos a mim, não enganas minimamente. É óbvio que aquela noite mexeu contigo e é óbvio também que gostaste, senão já tinhas ficado plantada à porta dele até falarem sobre o assunto. Ambas sabemos que gostas das coisas bem esclarecidas e se ainda não o fizeste é porque andas a arranjar forma de te convenceres que o que te estou a dizer não é a verdade!
- Luísa, depois falamos. Ok? Dói-me a cabeça!
- Então mas vens logo, não vens?
- Onde?
- Aos anos da Joana! O Tiago disse que ia, era uma boa oportunidade para…
- Para falarmos? Não me parece que seja o local ideal. Mas confirmo logo! Beijo
- Tu é que sabes! Até logo então!

Será que a Luísa tem razão?
O Tiago é meu amigo, sempre foi… Uma boa cama não pode mudar isso, ou pode
?

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