Carta de despedida de um Suicída

Querido Irmão,

Lamento não ter dito pessoalmente o quanto te amo e o quanto sofri todos estes anos pela tua existência.
Não penses que foi por ti que parti, mas é por ti que jamais regressarei.
Sei que tentaste tantas vezes apagar esse teu brilho natural, para que com algum esforço também eu me fizesse notar. Sei que não perdoas os nossos pais pela constante predilecção que manifestam por ti. Sei também que este é o momento de apaziguar essa tua revolta e de perdoares aqueles que sempre te amaram.
Não chores por mim, pois hoje sinto-me em paz! Jamais terei de lutar contra quem amo, jamais terei de me esforçar por ser quem não sou.
Mais que um irmão de sangue, és o meu irmão de alma! Aquele que sempre conheceu a minha verdadeira essência e nunca a inferiorizou.
É por ti irmão que parto, para te deixar livre de qualquer sentimento de culpa.
Apelo ao teu bom coração... Perdoa os nossos pais!

Com saudade,


A carta que nunca escreverei

Cara amiga:

Estranha a forma como tudo terminou, não achas? Na verdade tanta coisa se disse e se debateu nos tempos áureos da nossa “amizade”, que talvez quando chegou o momento de me virares costas um simples adeus não te tenha feito sentido.
Porém, tenho a dizer-te que faria todo sentido um porquê dessa decisão… Não é que sinta falta do teu companheirismo, pois nunca senti que tal houvesse da tua parte. No entanto, a meu ver, quem se intitula de “frontal” não toma uma atitude tão covarde.
Amiga, não penses que esta carta se trata de algum tipo de afronta pessoal, é apenas a minha opinião que te quero demonstrar. Talvez seja mais uma que irás contrariar ou maldizer, como sempre fizeste questão de evidenciar… Só assim consegues exercer a tua superioridade, não é verdade?
Não entendo porque te tornaste nesse ser um tanto ao quanto desprezível e mal-amado. Sentires-te feliz à custa da infelicidade dos outros é um pouco doentio, não concordas? Oh, claro que não! Nunca concordarias com algo que eu dissesse ou fizesse. Apoiares-me foi sempre algo que nunca te permitiste fazer… Sempre foi mais fácil mentir, humilhar e desprezar toda a amizade que te prestei e que nunca retribuíste.
Não posso dizer que te odeie, talvez te despreze… Resumindo, o que sinto é pena! Tenho pena na pessoa que te tornaste: alguém que será sempre infeliz por não saber retribuir o amor que lhe dão e apenas querer o que não lhe pode ser dado.
Mas enfim… Foi contigo que cresci, que passei os anos mais marcantes da minha juventude e como tal, dificilmente te irei esquecer. Serás sempre a amiga que não desejo a ninguém, mas também aquela que com palavras amargas e por caminhos tortuosos fez com que eu deixasse a ingenuidade de parte. Era através dela que via o ser que nunca foste e que eu tanto desejei que te tornasses…
Não te quero mal, infelizmente o mundo está cheio de pessoas como tu com as quais terei de lidar. Sejamos razoáveis, não posso virar costas a este mundo que endoidece diariamente aos meus olhos. Na maior parte das vezes, reajo da mesma maneira que faço contigo, ignoro a sua existência!
Atenciosamente,
Aquela a que chamaste irmã

Baunilha&Chocolate

Sempre se questionou pelas coisas mais evidentes. A necessidade de entender tudo e todos deixava-a impaciente, sempre com o “porquê?” prestes a escapar-lhe da boca. Lembro-me perfeitamente de uma das suas dúvidas, aquelas que surgiam sempre antes de deitar, no momento da despedida. Ela tinha cerca de 4 anos, ia dar-lhe um beijo de boa noite quando ela me perguntou - “Ana, conheces o Miguel da minha turma?”
“Sim, não é o teu melhor amigo?”
Um pouco reticente, respondeu “Penso que sim!”
“Então Maria, não tens a certeza?”
“Tenho, mas os meus colegas não gostam muito. Sabes, o Miguel é muito moreno e os outros meninos por causa disso não brincam com ele. E eu nunca entendi porquê, ele é muito simpático comigo e sei que fica triste por mais ninguém brincar com ele.”
Senti-me tentada a dizer que era puro racismo que os pais e a sociedade incutem na mente destas crianças. Mas a Maria era muito ingénua para perceber o mal que existe lá fora. Naquela altura a sua mente era pura e cheia de amor para dar, só ela conseguia pintar um mundo cheio de cores, sem ligar aos contrastes da vida. Para ela o amigo Miguel, era como todos os outros. Apenas “moreno”, dizia ela…
“E achas que é por ele ser «moreno»?”
Por instantes ficou pensativa e disse:
“Não sei, mas o Miguel gosta de mim e eu sou branquinha. E eu gosto do Miguel assim!”
“Então a vossa amizade é especial?”
“Hum hum…” anuiu. “É doce, assim como um gelado de baunilha e chocolate!” disse, toda sorridente.
Na altura apenas me ri e me despedi dela. Hoje, penso no quanto aquelas palavras eram sensatas. A Maria tinha apenas 4 anos e de maneira simples conseguiu identificar a beleza que existe na raça humana, o facto de sermos todos diferentes não é motivo para ser discriminatório. Pelo contrário, é “doce como um gelado de baunilha e chocolate”.


Sofia Simões



Amizade ou algo mais?

Já passaram duas semanas e o Tiago continua sem dizer nada! Sinto-me perto do desespero…
Aguentei 3 dias sem dizer nada, não quis dar muita importância à situação. Achei que o melhor seria agir como se nada tivesse acontecido… Mas ele não deixa! Porque é que ele não diz nada? Porquê? Sei que é o meu melhor amigo, mas não consigo deixar de pensar como aquela noite foi óptima.
Entre uma papelada e outra vem-me à memória os seus beijos, no café ouço o seu riso algures, a caminho de casa fico suspensa com o seu cheiro… Sinto-o em todo o lado, a cada esquina que viro vejo a sua cara em rostos desconhecidos! Não entendo o motivo para tanta obsessão, conheço o Tiago há tantos anos e isto nunca me aconteceu.

Tenho o telemóvel a tocar algures cá em casa… É ele, de certeza!
- Estou?!
- Olá desaparecida! Que é feito de ti?
- Ah… Olá Luísa! Tudo bem? Tenho tido imenso trabalho estes dias, desculpa!
- Pois, mas isso não é desculpa para não sairmos hoje. A Joana faz anos e quer que a gente vá ter com ela ao “Tocas” para bebermos uns copos!
- Hmm… Não sei, Luísa! Não me apetece muito, ando cansada… Queria aproveitar para descansar!
- Desculpas, só desculpas! Pensas que eu não sei que andas assim toda cabisbaixa por causa do Tiago?
- AH?!
- Sim minha menina! O facto de ele não te ter dito nada depois daquela noite anda a dar-te a volta aos cornos!
- Não sejas parva! Só estou preocupada com ele, não é normal ele ficar tanto tempo sem dizer nada.
- Claro, também não é muito normal ires para a cama com o teu melhor amigo!
- …
- Ana, só te digo isto para teu bem! Fala com ele, explica-lhe o que se passou e esclarece o que sentes.
- Já tentei! Ele não atende os meus telefonemas, não respondeu às minhas mensagens. Não posso andar a implorar a atenção dele.
- Ele deve andar tão confuso, coitado! Eu sempre achei que ele tinha um fraco por ti, nunca te disse nada por que não ias acreditar e ias dizer que eram histórias minhas, bla, bla, bla…
- Ia mesmo, porque não passa disso mesmo! Histórias, tretas…Entendes?
- Convence-te disso! E já agora tenta também convencer-te que só gostas dele como amigo. É que pelo menos a mim, não enganas minimamente. É óbvio que aquela noite mexeu contigo e é óbvio também que gostaste, senão já tinhas ficado plantada à porta dele até falarem sobre o assunto. Ambas sabemos que gostas das coisas bem esclarecidas e se ainda não o fizeste é porque andas a arranjar forma de te convenceres que o que te estou a dizer não é a verdade!
- Luísa, depois falamos. Ok? Dói-me a cabeça!
- Então mas vens logo, não vens?
- Onde?
- Aos anos da Joana! O Tiago disse que ia, era uma boa oportunidade para…
- Para falarmos? Não me parece que seja o local ideal. Mas confirmo logo! Beijo
- Tu é que sabes! Até logo então!

Será que a Luísa tem razão?
O Tiago é meu amigo, sempre foi… Uma boa cama não pode mudar isso, ou pode
?

A mudança

Não sei se poderei chamar destino ou acaso ao que aconteceu…

Por mais que quisesse pintar a realidade, dificilmente o poderia fazer pois já é demasiado colorida e o exagero poderia levar a algo berrante. Não sendo isso que pretendo, vou limitar-me a contar a verdade…

O caminho foi traçado em duas semanas! Estava confiante, o pior que poderia acontecer seria ficar em casa um ano e começar a trabalhar. O boletim estava preenchido, apostei as fichas todas numa só opção. Seria loucura deixar as outras 5 vazias? Assim parecia, pelo ar de perplexidade quando me questionavam sobre a minha escolha. “Só? Então e o resto? Estás mesmo confiante que vais entrar?”

O meu sexto sentido dizia que sim! Dou muita atenção ao sexto sentido, não tenho memória de me ter deixado mal. Não garanto que seja o sexto, poderá ser o sétimo, quiçá o oitavo. Sempre fui muito intuitiva!

A minha mãe dá-lhe outro nome, diz que é apenas “sorte”…

Pois bem, o sentido (seja ele qual for) ou a sorte , ou ambos, não me deixaram ficar mal! 13 de Outubro de 2005 foi o virar de página. No dia seguinte, encontrava-me a caminho da Serra (era o meu único ponto de referência) para fazer a inscrição e encontrar casa.
Não me lembro claramente dos primeiros dias, sei que não foram nenhum choque! Estava a gostar de estar por minha conta, fazer os meus horários, etc. A independência tinha um sabor tão doce!

Tudo era novidade, tudo cheirava a novo. No entanto, as ruas tortuosas e os saltos altos não combinavam. Sentia-me a bimba da cidade de visita à aldeia! Até hoje, garanto que não desisti dos saltos, adaptei-me às ruas!

Sentia-me bem, tranquila, era a chamada “paz de espírito”. Estava a conhecer pessoas diferentes, hábitos e maneiras de estar distintas da minha.

Foi nessa altura que…

“Desculpa! Eu acho que te conheço de algum lado…”

Tudo mudou!

Para ti amor...

Perdão

Meu amor:
Sei que vais achar estranho receber esta carta. Nao vais achar só o acto em si estranho, mas também o conteúdo.
Tanta coisa que ficou por dizer desde a última vez que nos vimos. Talvez um simples telefonema resolvesse a situação que ainda está pendente, ou talvez não! Sei que devia ser paciente, mas nunca tive essa virtude e acredita, o esforço que tenho feito é descomunal. Tentei abstrair-me de tudo o que te dissesse respeito nestes dois meses e poderia dizer que fui bem sucedida, mas nao sou capaz, amor! Nao sou capaz de te mentir. A verdade é que têm sido os dois meses mais desesperantes da minha vida.
Quando me disseste que precisavas deste tempo para pensar na nossa relação, não julguei que levasse tanto tempo. Trocámos palavras tão amargas naquela noite, que ainda me perfuram a alma cada vez que me recordo. Sei que disse que enquanto não dissesses nada, não terias notícias minhas. Como podes ver, não estou a cumprir. Por ti, estou disposta a deixar de lado o orgulho e a mágoa que nos levou à separação… Este é apenas o meu primeiro passo!
Agora que penso claramente em tudo o que se passou, questiono-me constantemente como chegámos a tal ponto. A nossa relação era tão sólida, parecia tão inabalável… Lembras-te de como os nossos amigos nos invejavam? Não imaginas como me arrependo de ter tido aquela crise de ciúmes. Não foi a falta de confiança que acabou com tudo, tal como pensas. Foi o ciúme doentio que me cegou completamente e não me deixou ver o homem maravilhoso que és. Sinto-me tão impotente por não saber o que fazer. Estou de mãos e pés atados… E e assim que te peço: Perdoa-me!
Amo-te!

A fuga!

Sentia necessidade de lhe gritar, de o insultar e chamar à razão. Mas pelo contrário, falou calmamente e disse:
- Só quero entender o porquê… Mereço uma justificação!
Ele sabia que dificilmente se poderia esquivar, de adiar novamente aquele momento. Necessitava de uma resposta rápida e concisa, mas qual? Ele sabia que não tinha justificação, mas precisava de a silenciar…
- Tenho medo…
Ela estranhou a resposta. Sabia que tudo que ele dissesse seria mentira, ou preferia acreditar que assim fosse…
- Medo de estares comigo?!
- Não, medo de te amar.




Poema

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
Conheço tão bem o teu corpo
Sonhei tanto tua figura
Que é de olhos fechados que eu ando
A limitar a tua altura
E bebo água e sorvo o ar
Que te atravessou a cintura
Tanto tão perto tão real
Que o meu corpo se transfigura
E toca o seu próprio elemento
Num corpo que já não é seu
Num rio que desapareceu
Onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco.

Mário Cesariny de Vasconcelos

Manifestações

Revoltantes, inquietantes… são assim que se descrevem estas últimas noites. Porque é que não me abandonas? Os sonhos são meus, pertencem-me. É cobardia tua manifestares-te e atacares-me desse modo tão cruel apenas quando estou a dormir, quando estou inconsciente e não te posso mandar embora.
Não adianta tapares-me a boca nem abafares os meus gritos (mesmo que ninguém os ouça, tu sabes o quanto eles teimam em sair). Não adianta enumerares as tuas novas conquistas. Não adianta vestires o papel de vítima. Não, não adianta quereres despertar em mim qualquer tipo de sentimento… Hoje, já nada disso me incomoda. Afinal, tudo se torna tão evidente, quando se sabe separar a ténue linha que divide esse sonho da realidade.

O sonho

Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama


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